opinião

Ainda precisamos do 8 de março?



Com o mês começando, (re)lembramos que a ideia do dia 8 de março foi gerada no contexto das lutas por melhores condições de vida e trabalho para as mulheres. Na verdade, essa data não pretendia ser apenas de comemorações. A ambição era de ampliarmos eventos, fóruns, conferências e reuniões que proporcionassem discutir o papel da mulher ao longo dos tempos. Nesse sentido, o esforço seria de valorizar o feminino.

Avançamos? Com certeza, muito.

Hoje, por exemplo, já temos o direito ao voto. A escolaridade das mulheres aumentou em relação aos homens, segundo a pesquisa de estatísticas de gênero que analisou os resultados do censo demográfico do IBGE no período de 2000 - 2010.

Se olharmos para o quantitativo de mulheres no mercado de trabalho, estaríamos ótimas. As pesquisas apontam que não. Apesar da conquista da licença maternidade, a qual nos auxilia nos primeiros meses com o bebê, esse é um dos fatores de desconforto na seleção em determinados empregos. No cotidiano, precisamos usar, ao menos o "depende" para responder questões relacionadas à igualdade de direitos no ambiente de nossas atividades profissionais. As variáveis incluem a presença ou não de filhos, das condições de trabalho, das situações envolvendo assédio, entre outras.

Se não temos filhos e o emprego exige viagens, horas de estudo e/ou reuniões, pode ser mais tranquilo. Do contrário, a cada nova oportunidade de crescer profissionalmente, a balança pesa, geralmente para a mulher. Nos casos que o parceiro decide se responsabilizar pelo cuidado diário com os filhos (levar/buscar no colégio, mercado, casa organizada, etc), é tido como um "santo". Mas, geralmente, o que se espera é que ela seja a responsável por todos esses itens. E se o(a) filho(a) não foi bem no colégio, namorou a pessoa errada ou não correspondeu a qualquer expectativa, essa mãe/trabalhadora não ouvirá que tem algum dom para santidade. As desvantagens na carreira profissional, vão, ao longo do caminho, evidenciando-se. Algumas, inclusive, deixam de lado promoções que necessitam ausências prolongadas do "lar". Outras saem do mercado de trabalho, criam seus filhos e tentam retornar. Nesse momento estão desatualizadas, tornando-se mais um motivo de dificuldade para o avanço profissional.

Exemplos do nosso cotidiano apontam também que, mesmo nos posicionamentos subjetivos, há um pré-julgamento do feminino. Podemos citar o recente episódio de pedofilia abordado em horário nobre na televisão. O debate incluiu o questionamento de como a mãe não percebeu essa situação. As cenas, anteriores ao julgamento, já destinavam boa parte da culpa para a mulher, que sequer acreditava na denúncia da filha. Quando foi exposto que ela estava trabalhando nos momentos em que a criança foi abusada pelo padrasto, muitos debatiam qual o direito que as mulheres têm de refazerem suas vidas com um novo companheiro. Como as mulheres colocam qualquer homem para dentro de casa? Fico me perguntando: quando os homens recomeçam suas vidas em outros relacionamentos, ficam receosos da "madrasta" abusar sexualmente de seus filhos? Ao mesmo tempo poderíamos ter tido outra dúvida: onde estava o pai da menina que vivenciou abuso? Por não viver mais com a esposa/companheira, não precisaria mais de preocupação com a menina? E, de novo, culpabilizamos as mulheres.

Ainda há uma parte da sociedade que aprova o modelito bela, recatada e do lar. Portanto, sim: precisamos continuar os debates (não só) no 8 de março.

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